Dia do Meio Ambiente em Niterói: prefeitura celebra conquistas com programação cultural, e especialistas apontam problemas
- Redes Rebia
- 10 jun
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Ambientalistas falam em manter avanços diante das mudanças globais. Prefeitura destaca investimentos no setor

Diante das emergências climáticas mundiais e dos ataques ao licenciamento no Congresso Nacional, o Dia do Meio Ambiente, na quinta-feira (5), estará mais para protestos que comemorações. Em Niterói, a preocupação dos ambientalistas é evitar retrocessos na política municipal. Para eles, os pontos críticos são o baixo índice da reciclagem de resíduos, o trânsito pesado de veículos e a falta de uma integração regional em áreas como saneamento e recursos hídricos na cidade, que bebe a água que vem de Cachoeiras de Macacu. A prefeitura destaca que é referência nacional em políticas ambientais e fala dos investimentos no setor.
Professor do Departamento de Análise Geoambiental da UFF, Kenny Tanizaki Fonseca diz que Niterói precisa continuar sendo referência na preocupação com as mudanças climáticas. Ele critica a transformação da Secretaria municipal do Clima em subsecretaria e a redução da equipe da área.
Membro do Conselho Municipal de Meio Ambiente como representante da universidade, Fonseca teme que o adensamento urbano e a especulação imobiliária aumentem os problemas ambientais e dificultem a mobilidade.
— Precisamos assumir que a questão climática é fundamental e preparar Niterói para ser resiliente diante dessas mudanças globais. É preciso se preocupar com a redução de emissões, a arborização urbana para amenizar o calor e a drenagem das áreas de risco nas encostas, além de estudar os pontos sujeitos à inundação. A gestão de resíduos entra ano e sai ano e fica na mesma situação. Apesar de a questão cicloviária na cidade estar muito legal, a mobilidade urbana anda péssima, e prédios não param de subir — critica.
Críticas e desafios
O ambientalista Cássio Garcez lista outros problemas que Niterói deve superar para garantir qualidade de vida e os atores que poderiam ajudar a mudar esse cenário:
— São setores do mercado imobiliário que buscam avançar sobre áreas preservadas, vulneráveis ou com risco de alagamento com a prevista subida do nível do mar nas próximas décadas, devido ao aquecimento global; o ponto de descarte de efluentes domésticos da Águas de Niterói dentro do setor lagunar; as podas assassinas da Enel; e a opção da prefeitura por autorizar a remoção de árvores adultas, contradizendo o título de “Cidade Amiga das Árvores”.
Garcez lamenta as poucas iniciativas e investimentos em ações de educação ambiental para a população, em temas como reciclagem de lixo e economia de materiais, água e energia, e a importância das áreas naturais e unidades de conservação como promotoras de serviços ambientais e qualidade de vida. Destaca ainda os poucos investimentos do poder público municipal em estruturação de quadros de pessoal das unidades de conservação e critica os vereadores:
— O Legislativo é pouco sensível às questões e problemas ambientais do município, tanto pela opção de atendimento a interesses individuais e alheios ao tema quanto pelo desconhecimento técnico sobre sua importância, sua vulnerabilidade e seus problemas.
Presidente do Conselho Comunitário da Região Oceânica de Niterói (Ccron), Carlos Jamel destaca que são vários os desafios para a gestão das lagoas de Itaipu e Piratininga, mas, para ele, o principal deles é tratar os problemas de maneira integrada.
— É fundamental reduzir drasticamente ou eliminar a descarga diária de esgoto e o aporte de lixo e sedimentos que chega pelos rios e córregos afluentes das lagoas. Intervenções como a recuperação do Canal de Itaipu são importantes, mas não suficientes. Um dos projetos com visão e planejamento mais abrangentes e ousados foi o do Parque Orla Piratininga, dentro do Programa Pró Sustentável. No entanto, ele vem sofrendo com o excesso de esgoto e lixo que chega aos jardins filtrantes, que não foram planejados para essa carga. Falta muito em saneamento em Niterói — lamenta.
Sobre podas de árvores, a Enel informa que as faz com autorização da prefeitura e que realiza a chamada “poda de adequação”, que consiste em remover os galhos, sem comprometer a saúde da árvore, seguindo as normas técnicas estabelecidas pela ABNT.
Já a Águas de Niterói diz que "atua fortemente", em conjunto com a Secretaria municipal de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade, para evitar o descarte irregular de esgoto nos corpos hídricos da cidade. Segundo a concessionária, com o Projeto de Regularização Sanitária, a empresa já evitou o despejo irregular de mais de 360 milhões de litros de esgoto, desde seu lançamento, nos rios, mares e lagoas da Região Oceânica de Niterói. Em 2025, o projeto foi ampliado para bairros do Centro e Zona Sul da cidade.
Prefeitura lista conquistas
Ao falar dos investimentos feitos na proteção do meio ambiente, a prefeitura destaca que Niterói é a primeira colocada no Rio e a quinta no Brasil em saneamento, segundo rankings do Instituto Trata Brasil e CLP, e que, nos últimos 12 anos, foram investidos mais de R$ 1,7 bilhão em resiliência e prevenção o que inclui equipamentos, tecnologia, capacitação, drenagem, pavimentação e contenção de encostas em todas as regiões da cidade.
“Niterói se destaca na área ambiental. A cidade tem mais de 56% das áreas verdes protegidas. O Parque Orla Piratininga é o maior projeto de soluções baseadas na natureza do Brasil, com R$ 100 milhões investidos. Os jardins filtrantes tratam águas pluviais e devolvem água de qualidade à Lagoa de Piratininga. Outras obras importantes são as de recuperação do Canal de Itaipu, restauração do Túnel do Tibau e renaturalização do Rio Jacaré. Niterói é uma das duas cidades de todo Brasil a receber o selo Cidade Amiga das Árvores, da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, por ações de inclusão de áreas verdes na cidade”, diz um trecho da nota da prefeitura.
A administração municipal acrescenta, ainda, ações feitas na melhoria de setores como a Defesa Civil, que conta com equipe de monitoramento meteorológico 24h, e ressalta que o município foi o primeiro a implementar um programa de educação climática, em convênio com a Fiocruz. Afirma ainda que a coleta seletiva está presente em todos os bairros. Sobre alagamentos, cita mais de 150 ruas beneficiadas com implantação de rede de drenagem e pavimentação da Região Oceânica e a realização de uma obra que será licitada neste ano com o intuito de acabar com o alagamento histórico no entorno do Estádio Caio Martins, em Icaraí.
Já sobre transportes, a prefeitura diz que a redução do preço do catamarã Charitas-Praça Quinze, de R$ 21 para R$ 7,70, implementada em março, resultou numa diminuição de seis mil veículos por semana das ruas da cidade, contribuindo para a melhor fluidez no trânsito e para a qualidade do ar.
Programação
Para celebrar o Dia Mundial do Meio Ambiente, a prefeitura preparou uma programação com atividades educativas, culturais e interativas ao longo desta semana, em parceria com o Instituto de Biologia da UFF, a produtora Ecoarte Produções e o Tribunal de Justiça do Estado do Rio.
Entre os destaques estão o lançamento do aplicativo de trilhas ecológicas da cidade, realizado na segunda-feira. O app tem como objetivo permitir que moradores e visitantes explorem com segurança as áreas verdes de Niterói, além da distribuição da cartilha do Inventário Faunístico Municipal, que apresenta a biodiversidade da fauna niteroiense.
O Centro Eco Cultural Sueli Pontes realiza, desta terça até quinta e no sábado, uma programação com foco na conscientização ambiental. Oficinas, trilhas ecológicas, exposições científicas, palestras e apresentações culturais integram o evento gratuito e aberto que busca aproximar ciência, arte e natureza em experiências educativas e interativas.
A programação do espaço tem início na terça, às 10h, com a palestra “Mar e autismo”, da vice-presidente da Associação Caminho Azul, Diana Negrão, e a abertura de atividades como a Tenda Escuta TEA, exposições do Instituto de Biologia da UFF, o projeto Turma do Óleo e demonstrações científicas interativas com observação de organismos vivos, sementes da restinga e impressões 3D.
Nos dias seguintes, o público poderá participar de caminhadas ecológicas guiadas pelo historiador ambiental Alex Faria, assistir a peças teatrais temáticas e acompanhar exposições ambientais e oficinas de reciclagem criativa, sempre às 10h. Na quinta, haverá um mutirão de limpeza nas margens da laguna, às 9h, além da participação do Coral da Clin e da Associação de Pescadores da Lagoa de Piratininga (Apalap), com demonstração de pesca artesanal.
O encerramento da programação do Centro Eco Cultural será no sábado, com uma feira de artesanato, oficinas para crianças, teatro, exibição de documentário e apresentação de maculelê com o grupo Gingas de Niterói, utilizando bastões feitos com garrafas PET.
Já o Parque Rural do Engenho do Mato vai promover um dia de atividades para a família, na quinta, das 10h às 17h, com oficinas, brincadeiras e animais.
Por O Globo.
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